27.06.2022
#ProgramaPotenciar, debate, deontologiaprofissional, saúde
Marco Político, legal e institucional Cuidados de Saúde Primários (CSP)

Primeira Roda de Debate sobre Humanização, Ética e Deontologia Profissional na Saúde

A Aliança para a Saúde participou no passado dia 23 de Junho, numa roda de debate sobre humanização, ética e deontologia profissional na saúde, realizada pelo programa Potenciar, com vista a debater sobre o impacto da qualidade da formação profissional no atendimento aos utentes das unidades sanitárias.

Pretendia-se com este debate, que contou com a participação de várias organizações da sociedade civil, reflectir sobre a forma como são construídos os valores e princípios morais na sociedade, para no fim analisar como se reflectem esses mesmos princípios e valores na prestação de serviços públicos e privados de saúde.

Para além das organizações da sociedade civil, participaram igualmente neste evento, o Ministério da Saúde (MISAU), através do Departamento de Qualidade e Humanização, a Associação das Parteiras de Moçambique, a Associação dos Enfermeiros de Moçambique, o Instituto Superior de Ciências de Saúde (ISCISA), a Plataforma da Sociedade Civil para Saúde de Moçambique (Plasoc-M), bem como o Professor Severino Ngoenha.

Todos nós buscamos felicidade e esta busca tem limites

Na sua intervenção, Severino Ngoenha, professor, filósofo, escritor e Reitor da Universidade Técnica de Moçambique referiu que “todos nós buscamos felicidade e esta busca tem limites. E esse limite é o outro. A felicidade de um, não deve se sobrepor a dos outros. Os provedores devem respeitar a busca dos utentes ao procurarem os serviços de saúde e este respeito pela busca do outro chama-se moral.”

De acordo com Severino Ngoenha, “não podemos fazer tudo, nem ocupar todos os espaços.”  Desta feita, cada um ao ocupar um espaço deve-o fazer muito bem. O que se subentende que os provedores de saúde devem ocupar bem o espaço que têm nas unidades sanitárias, garantido que oferecem um trabalho de qualidade e humanizado aos utentes.

Ainda na sua intervenção, o professor Severino aproveitou a ocasião para apelar à Sociedade Civil para que, para além de realizar encontros, reuniões e workshops, trabalhe de forma a reintroduzir boas práticas nos pacotes formativos: a dimensão humana do profissional de saúde. Severino não vê na repreensão a solução dos problemas, mas sim na reeducação. Logo, as instituições precisam de se tornar mais fortes, pois não há sociedades democráticas sem instituições fortes.

O sofrimento e a dor dos utentes não podem ser usados

Por sua vez, a coordenadora da Aliança para a Saúde, Violeta Bila, afirmou que o lema do MISAU – ʽʽO nosso maior valor é a vida” – é questionável. Isto, porque quando os cidadãos vão em busca de felicidade, através dos serviços de saúde, são confrontados com cobranças ilícitas, falta de apoio, falta de empatia generalizada e a consequente quebra de confiança dos utentes em relação a esses mesmos serviços de saúde. Para a coordenadora, “o sofrimento e a dor dos utentes não podem ser usados como moeda ou mecanismo para o alcance da felicidade dos provedores”.

Os profissionais de saúde precisam ter mais empatia

O MISAU, representado pelo Departamento de Qualidade e Humanização, aproveitou a ocasião para reconhecer os desafios do sector e reforçar que, de facto, os profissionais de saúde precisam ter mais empatia, apesar do desafio das desigualdades entre os médicos e enfermeiros que criam barreiras para o funcionamento.

Reconhecendo a baixa qualidade dos profissionais de saúde, o MISAU afirmou que o exame psicotécnico que foi retirado aos formandos, será retomado ainda este ano, 2022, já que se mostra crucial.

Por sua vez, a Associação dos Enfermeiros, responsabiliza o sector pela má qualidade dos profissionais que saem dos institutos privados. Para este órgão, estes profissionais são recebidos nas Unidades Sanitárias públicas para estágio e são avaliados. Este é um dos espaços em que se deve aferir a qualidade dos estudantes. Outro elemento colocado foi a existência de mais estagiários nas unidades sanitários do que provedores e, nalguns casos, mais do que os próprios utentes.

O Professor Severino, em resposta às questões acima apresentadas afirmou que “estamos perante uma sociedade que perdeu os seus valores e a moral”. Para o Professor, não se trata apenas de um problema de sector de saúde, mas sim de uma sociedade como um todo. Acrescenta que “temos uma sociedade dolacrática, onde o dinheiro é que conta e cada um está preocupado em buscar recursos para si”.

Importa referir que esta é a primeira roda de debates e foi organizada pelo Programa Potenciar, em parceria com várias organizações, incluindo a rede Aliança para a Saúde.