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25.09.2024
#sociedadecivil, suicídio, resposta, jovens
Direito à Saúde Activismo em Saúde

Sociedade Civil quer intervenção do Governo para resposta ao aumento de casos de suicídio entre os jovens

Realizou-se, no dia 18 de Setembro de 2024, um webinar de reflexão sobre o aumento crescente de casos de suicídio entre os jovens, organizado pela Aliança para a Saúde, no âmbito da campanha “Setembro Amarelo”.

apelou para que o suicídio seja visto como um problema social colectivo e não apenas como um problema individual

Assinalou-se no passado dia 10 de Setembro, o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio. A rede Aliança para a Saúde organizou este evento, como forma de despertar uma atenção crítica e reflexiva em torno do crescente número de casos de suicídio entre os jovens de Moçambique, mas também a nível internacional.

 

O webinar iniciou com uma breve contextualização do panorama nacional e internacional sobre o suicídio, com base nos dados da OMS (Organização Mundial da Saúde), apresentadas pelo moderador, Bayano Valy. Este realçou que o suicídio – o acto de causar a própria morte de forma intencional – está entre as 20 primeiras causas de morte em todo o mundo, sendo que entre os jovens dos 15 aos 22 anos, é já a segunda maior causa de morte, com Moçambique a ocupar a segunda posição em África.

 

O sociólogo Stélio Nhenheze, primeiro interveniente do painel, apelou para que “o suicídio seja visto como um problema social colectivo e não apenas como um problema individual”. Na mesma linha, afirmou também que “o país, por estar em via de desenvolvimento, tem um alto número de suicídios ligados, não apenas a rupturas amorosas, mas também a problemas financeiros, incluindo nos últimos tempos as apostas e jogos de azar, pressões sociais, problemas de saúde, abusos de susbtâncias, entre outros”.

nos encontramos numa sociedade em que se negligencia a importância da saúde mental

Por sua vez, Momad Massingue, oficial de engajamento comunitário da sociedade civil, afirmou que, no Norte do país, particularmente na província de Cabo Delgado, “as deslocações [forçadas], a violência baseada no género e a usurpação de bens têm culminado em suicídio ou tentativas”. O mesmo realçou que, para evitar mais casos de suicídio naquela zona do país, optam por realizar terapias ocupacionais, acompanhamento lúdico, apoio psicossocial e o encaminhamento especializado.

 

Segundo a psicóloga clínica, Cesaltina Nhantumbo, “nos encontramos numa sociedade em que se negligencia a importância da saúde mental, fazendo com que as pessoas tenham medo de se abrir, por mais que estejam a passar por momentos conturbados, mas que, por estarem num ambiente fechado, acabam por cometer suicídio”. Ainda sobre o contexto moçambicano, a psicóloga clínica sublinhou que “a província de Inhambane possui a maior taxa de suicídio no país, devido à falta do apoio psicossocial nas unidades hospitalares, ao fraco conhecimento das funções desempenhadas por psicólogos e psiquiatras e ao estigma sofrido por quem procura um acompanhamento clínico”.

há uma necessidade importante e urgente de que a sociedade em geral e as autoridades comecem a olhar para este fenómeno

O webinar também contou com partilha de experiências de pessoas que tentaram cometer suicídio.

 

Lucas (nome fictício), afirmou que já tentou tirar a sua própria vida devido a uma ruptura amorosa. Outro sobrevivente, João (nome fictício), partilhou a sua tentativa de suicídio quando perdeu a sua mãe, tendo recebido críticas das pessoas mais próximas por esse facto, ao invés de receber o apoio de que necessitava.

 

Durante o debate que teve lugar, ficou patente por parte das OSCs presentes, de que há uma necessidade importante e urgente de que a sociedade em geral e as autoridades comecem a olhar para este fenómeno, não apenas como uma questão de saúde pública, mas também do ponto de vista multissectorial, olhando para as causas que interrelacionam os diferentes factores sociais de uma forma integrada. A Sociedade Civil apela a que o Governo se posicione e elabore estratégias sólidas e estruturantes, junto com um plano de acção efectivo.

 

A Aliança para a Saúde defende que há que ir além das redes de apoio comunitário e familiares para mitigar a problemática do suicídio; é preciso intensificar também as campanhas de sensibilização nas comunidades, criar redes de apoio, fazer advocacia e pressionar o Governo para elaborar estratégias, políticas e prestar melhores serviços de maneira coordenada e multissectorial.

Este evento teve a duração de duas horas e contou com a presença de mais de 30 participantes, que puderam transmitir as suas opiniões, comentários e reflexões sobre este fenómeno de um número crescente de jovens que “desistem” da vida de forma voluntária.    

 

Actividade realizada no âmbito do Convénio 22-CO1-398 Melhorar a Qualidade, Cobertura e Resiliência do Sistema de Saúde em Cabo Delgado, implementado pela medicusmundi, e financiado pela Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (AECID).